O homem corvo

Dos círculos sociais me esquivo

Da infame reuniões dos vivos

Eu repouso nas ruínas tumulares

Mesclado a esse mundo tenebroso

Mais denso que um pântano venenoso

Sigo tal um corvo agourando os ares

Eu celebro a vida que se apaga

Com minha boca regurgitando pragas

Eu me batizo no pó e na miséria

E a cruz da vida cerra o seu suplício

Levo todos como ovelhas pro sacrifício

Reduzindo-os a um banquete das bactérias

E a luz do dia é aquilo que mais odeio

Nasci das trevas do que é tortuoso e feio

Uma vida se apaga e uma vela acende

Sigo criando um mar de velas acesas

Tal uma sombra me alimentando das tristezas

Essa beleza somente a noite entende

E a morte chega a todos em um segundo

Da tênebra vou agourando o mundo

Na euforia de ver os sonhos morrendo

E o pranto cortando o silêncio da madrugada

Com corpos apodrecidos enfeitando as estradas

Com abutres por cima e os vermes lhe corroendo

Thiago Araujo
Enviado por Thiago Araujo em 04/02/2020
Reeditado em 04/02/2020
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