PARTIDA
Quando fechaste os teus olhos
em tuas verdejantes primaveras,
disseste adeus ao esplendor deste mundo.
Ficaram aqui os que te amavam de joelhos a orar,
com olhos inchados de tanto chorar,
regando flores querendo sentir o teu perfume.
Foste imagem, reflexo, reconvexo
e agora és luz refletida em corações
que sofrem com a tua ausência.
Agora as tuas mãos repousam
sobre o teu peito inerte
e jazem os sonhos juvenis.
Foste um sopro de vida que passou
tão célere quanto o vento
deixando marcas profundas.
A tua imagem transfigurou-se em paisagem
que se perpetuou em nossas mentes:
sorriso terno, olhar meigo e carinhoso.
A fase de impulsos finalizou
e o impulsivo coração descansou.
Agora dormes em ermo desnudo de ilusões,
morreram as cantigas, ficou o canto da saudade
povoando os corações aprisionados,
intensamente habitados por tua lembrança.
Outras verdes auroras cingem-te agora.
E entoando uma dura saudade cinza
os lábios bramam uma aguda dor, abissal
que fende o peito de uma família aflita
e o que lhe resta é rezar contrita
de olhos fechados ao entardecer.
In Memoria de Luís Antônio Xavier Neto
Umbelina Marçal Gadelha
Quando aconteceu aquele terrível acidente em Floriano com aqueles quatro jovens toda população ficou enlutada.
Entre os jovens que partiram estava Luís Antônio, sobrinho do meu marido. Eu passei vários dias em lágrimas. Ninguém está preparado para uma partida precoce. Então escrevi o que meu coração sentia. Não li, não corrigi, apenas escrevi. E depois de passados tantos anos ainda não consigo ler. Escrevi para mim mesma, jamais tive coragem de mostrar o texto para a minha cunhada ou para alguém da família.