Severina

Como a vida em grandes pedaços

Com medo de envelhecer

Sem antes de nascer ter sido

Sem nem mesmo ter nascido

Morrer, sem nunca vivido

Sem isso de questionamento

Parado em movimento

E nada de "ser ou não ser"

Pro velho a morte é severa

Pro novo é coisa distante

Vai crescendo que nem hera

Comendo pelas beiradas

Diminuindo o instante

Assim, sem pouca espera

Imagine deitar já no leito

A memória com defeito

Se perguntar quem eu fui

Sem nem saber que já fui

Nem muito saber quem era

A vida é coisa curiosa

Vagarosa, sem intuito

É dá lição perigosa

Que sempre fica pra trás

Quem tem pouco não quer muito

E quem tem muito quer mais

A vida é assim severina

Já vamos desde criança

Crescendo ansiedade

Da vida virar inquilina

No fim só sobrar a idade

E a lembrança pequenina

Que só quando eu for criança

Aí que vou ser de verdade