Um brinde ao mistério

Já não podemos contar com a sorte,

Com a boa vontade, com o socorro.

Não podemos fazer dívidas,

Nem acreditar nos números,

Ou num mapa astral sem Plutão.

Já não sabemos quem somos,

Senão que somos

Micro num macro,

Retalhos de quem lemos,

Amamos, deixamos ou

Ouvimos, quando nem era nossa vez.

Só podemos ter alguma simpatia

Com nossa história, nossos dilemas,

Problemas, sem achar sentido ou razão.

Porque somos uma coleção de coisa nenhuma.

Estamos sozinhos e por isso mesmo

Já conseguimos. Já chegamos.

O lugar pode ser nenhum,

A coisa pode ser nada,

A pessoa pode ser ninguém,

E o acaso pode ser a chave.

Já não podemos contar com a sorte,

Mas ainda podemos acreditar na morte.

E a morte é um brinde,

Um brinde ao mistério.

Cyntia Pinheiro