AFINAL É NATAL

Queria não sentir a dor,

no sofrer das crianças abandonadas.

Experimentar a continua alegria exagerada,

dos órfãos que foram amparados.

Impedir o frio na madrugada,

que sentem meus irmãos mendigos, sem tetos,

os drogados, que dormem nas calçadas.

Sinto a angustia dos pequeninos favelados,

os que ainda não foram alimentados,

todos os maltratados!

A solidão íntima das mulheres mal-amadas,

aquelas que foram espancadas...

Desejo extinguir a loucura dos avarentos,

e sua ambição desenfreada.

Evitar a agonia do “feto” que a “mãe” abortou.

Antecipar-se ao socorrer,

a vítima que o louco estuprou,

as vidas que a fome ceifou,

que a guerra aniquilou,

as que o preconceito escravizou.

Uma parte de mim se desespera,

observando no que o homem se tornou.

A outra jubila,

pelo que o ser humano conquistou?

Queria não sentir essa dor.

Contagiar pessoas com meu sonho.

Aprender um pouco mais,

sempre mais, do genuíno amor.

Mas quanta hipocrisia no mundo?

Estou me sentindo mal.

Abram as cortinas! Acendam as luzes!

Também quero representar,

afinal é Natal.