À integridade de um pássaro morto

Hoje vi na rua

um pássaro morto…

…caído da lua

ou filho do aborto?!...

Corpo semi-nú,

com olhos de sono

ávidos de luz,

penugem de Outono.

Vejam, que tristeza!

Um pássaro intacto

morto de surpresa,

de modo abstracto.

Ah! Morte cruel!

Diz-me: porque tens

passos de papel

e, em silêncio, vens,

com danças da noite,

exibir teu rosto,

com rasgos de açoite

e hálito de mosto?...

Lacera, em silêncio,

detritos de vida,

mas tem consciência…

provoca feridas.

Não vivas oculta

em corpos intactos.

Isso é mero insulto

ao rumo dos factos!...

13/07/1974 in “Jornal das Aves”