Queda d'água
Não sei de onde vem aquelas águas
Que desabrocham da pedreira
Deslizam avidamente como fera felina
Desabam pela colina
Feito menina apressada, na corredeira
Parecem véu de noiva na ventania
Parecem chuva grossa na ladeira
Parecem enxurradas escavando a via
Ou relâmpago antes da trovoada
Forja um lago, um redemoínho
Corre leito afora, faz do terreiro, seu ninho
Depois vai embora
No começo solo rijo, cabe martelar
No percurso leva tudo que há
Crava à força no canteiro
Nem as flores do barreiro vão ficar
Vem o vento sopra as pétalas pelo ar
As sementes se esopalham no caminho
Águas levam as raízes, arrancam cicatrizes
As folhas ressequidas, como as dores
Seguem as águas, se deixam levar
Deságuam no mar.