UMA ÁRVORE

Não sei se plantada ou nascida ao léu,

Só sei que ali vingou um ser clorofilado;

Que aos poucos enraizou-se e se elevou ao céu;

Os braços ergueu, encorpou, teceu um belo emaranhado.

Sem pedir licença foi logo ocupando o espaço,

Era a dona do lugar, sobressaía; por todos admirada.

Seu tronco altaneiro mais largo e grosso que mil braços,

Suportava verdejante folhagem, abrigo à passarada.

Assim como a árvore também a urbe verticalizou,

Muita gente necessitada de abrigo, teto cama e fogão,

Ameaçada, por isso, o espaço não era mais seu só:

Perdeu hegemonia, máquinas vorazes invadiram seu chão.

Vejo-a agora cercada de andaimes que erigem paredes;

De edifícios que ainda esqueléticos surgem e vão subindo,

Abraçam e cercam a velha árvore como brutas redes

Sufocam-na, delimitam-na, e aos poucos ela vai sumindo.

Não sou profeta, prever o futuro não posso nem sei dizer,

Por isso queria cantar e denunciar na pobreza desta prosa,

A dor que vai na alma e a impotência de não conseguir deter

A iminente morte de uma velha árvore outrora poderosa.

J.Mercês

19/8/2014

JOSÉ MERCES
Enviado por JOSÉ MERCES em 19/08/2014
Reeditado em 20/08/2014
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