UMA ÁRVORE
Não sei se plantada ou nascida ao léu,
Só sei que ali vingou um ser clorofilado;
Que aos poucos enraizou-se e se elevou ao céu;
Os braços ergueu, encorpou, teceu um belo emaranhado.
Sem pedir licença foi logo ocupando o espaço,
Era a dona do lugar, sobressaía; por todos admirada.
Seu tronco altaneiro mais largo e grosso que mil braços,
Suportava verdejante folhagem, abrigo à passarada.
Assim como a árvore também a urbe verticalizou,
Muita gente necessitada de abrigo, teto cama e fogão,
Ameaçada, por isso, o espaço não era mais seu só:
Perdeu hegemonia, máquinas vorazes invadiram seu chão.
Vejo-a agora cercada de andaimes que erigem paredes;
De edifícios que ainda esqueléticos surgem e vão subindo,
Abraçam e cercam a velha árvore como brutas redes
Sufocam-na, delimitam-na, e aos poucos ela vai sumindo.
Não sou profeta, prever o futuro não posso nem sei dizer,
Por isso queria cantar e denunciar na pobreza desta prosa,
A dor que vai na alma e a impotência de não conseguir deter
A iminente morte de uma velha árvore outrora poderosa.
J.Mercês
19/8/2014