SAUDADE DE MANOEL DE BARROS

Manoelescas dores muito minhas

sinto, de quem nem tanto assim

sabe brincar com as palavrinhas;

hoje choro como as pedras, sim.

Senti suas inutilidades passarem

nos nervos, na pele, em toda a falange;

num livro sobre nada, descobri-me

que "o menino de ontem me plange".

Hoje não termina o descartabilíssimo

e intenso ofício de fazer brinquedo

com as palavras. Nem o medo delas.

Nem o anti-poema geo-invisível!

Você, Manoel, foi mais um ponto de

passagem do que um mero estado.

"Besouros não trepam no abstrato" -

continuemos, poetas, o cascalho versado.

Obs: À Manoel de Barros, um dos poetas mais considerados do país, que morreu na manhã deste dia 13 de novembro de 2014 em Campo Grande levando os pássaros, as pedras e todos os outros detalhes inúteis com ele pra gente versar de novo.