S I N F O N I A D A S A V E S

Para mim, a poesia que apresento abaixo foi a mais bonita que eu já escrevi. Minha irmã Edésia acha que CONSEQÜÊNCIA DE UM RACIOCÍNIO supera esta; mas “gosto não se discute”; e, eu defendo o meu ponto de vista, sabedor de que ela não conhece a maneira dos seus cantos nem o “modus vivendi” da passarada na mata virgem, e muito menos a imaginação criadora que existe nessas paragens. Feito esta observação, vamos então à:

SINFONIA DAS AVES

AYRES KOERIG

Quando na mata virgem de passeio,

Eu adentrando por ali afora,

Senti-me co’alma em grande devaneio,

Não tive pressa de me ir embora.

Foi transformando em céu este local!

Que a passarada numa sinfonia,

Ao converter a mata em catedral,

Tornou-a linda num romper de dia!

Quando um MACUCO lá em cima dum galho,

Dá três ou quatro pios com grande alento...

Se espreguiçando sai para o trabalho,

A ciscar terra em busca de alimento.

Bem lá na grota um INAMBU solfeja,

No meio dos caetés donde se esconde...

Já noutro lado a FÊMEA que graceja

E com trinado agudo lhe responde!

Um SABIÁ-COLEIRA abre seu bico

Para cantar seu hino em tom menor!

Mais adiante a voz de um TICO-TICO,

Que sabe seus gorjeios já de cor.

Num velho ipê, do qual a fronde lhe orna,

Uma ARAPONGA até no sol se por,

Lembrando o malho em cima da bigorna, m Solta seus gritos com voz de tenor.

Adiante a voz de dois PAPA-BANANAS,

Dando uns avisos pros colegas seus,

Num replicar de cantos, mas com ganas,

Parecendo dizer: “aqui está Deus”!

Nas cercanias do mato cerrado,

Empoleirado num delgado ramo,

Surge o trinar alegre e compassado,

Do nosso conhecido GATURAMO.

Um PINTASSILGO trina a sua prece,

Num novo arbusto de açoita-cavalo...

Eu não entendo, mas pra mim parece,

Que pede aos céus pra sempre abençoá-lo.

Um pássaro por nós bem conhecido,

Não muito além de mim, mas logo ali,

De bico arcado, não muito comprido,

No alto da copa canta: Bem-Te-Vi.

Nos secos galhos duma caneleira,

Entre os carrascos dumas ervas más,

Numa alegria lépida e fagueira,

Estão dançando lindos TANGARÁS,

Fazendo a festa do acasalamento,

Pra muito em breve construir seus ninhos...

Antecipando o belo e doce evento,

É lei da mata, lei dos passarinhos!

Por entre troncos de portes mais baixos,

Eu escondido por baixo dos panos,

Vozes rouquenhas como uns contrabaixos,

Surge na frente um bando de TUCANOS.

Bicos compridos, cor: verde e amarelos,

A contrastar com peitos de carmim,

Eu reparei então como são belos,

Com suas costas em preto-marfim!

Um SURUCUÁ, plumagem bem brilhante

Empoleirado num pé de carvalho,

Com pensamento fixo bem distante,

Olha sua AMANTE que pousa outro galho!

Vi outros passarinhos esquisitos

E quase todos de plumagens belas;

Como um casal de verdes PERIQUITOS,

E muitos PAPAGAIOS tagarelas.

Um pouco adiante pela mata afora,

Fixo os olhares e de longe ouvi,

No instante em que eu pensei em ir-me embora,

O canto sonhador da JURITI.

Volto pra casa e no costão bravio,

Na correnteza de beleza infinda,

Numa embaúba da beira do rio,

Um MARTIM-PESCADOR, figura linda...

Com seu “clac, clac” é feita a percussão,

Voando por sobre águas cristalinas...

Por vezes mergulhando com atenção,

Para pegar as piavas pequeninas!

Já quase noite no sair do mato,

Quando eu já perto estava do meu carro,

Ouvi um cantar de grande espalhafato,

Feito por um casal de JÕES-DE-BARRO!

Eu vi, posso jurar e conto em verso,

A todos quanto agora estão me lendo...

Graças ao Criador Deus do Universo,

A Ele é que este meu pedido ascendo:

Que aquele recital bem diferente,

Que trago aqui gravado na lembrança,

Seja um pedido pra que o Deus Clemente,

Traga ao vivente mais esta esperança:

De ter vida melhor! Que o mundo viva,

Sem guerras, sem maldades – viva bem.

Que imite as aves com vida afetiva,

A que queremos, para nós! Amém!

Carinhoso abraço. Ayres

Ayres Koerig
Enviado por Ayres Koerig em 04/03/2015
Reeditado em 04/03/2015
Código do texto: T5157842
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