TERRA RACHADA

O sol me castiga, nuvens esparsas se afastam,

clamo por água, gotas pequenas, pingos talvez,

nem que sejam passageiras e molhem a terra

pois estou sedento e vejo plantas secarem,

e no espaço onde existiam águas abundantes,

minhas margens estão rachando parecendo até feridas.

Tenho reservas onde muitos se abastecem,

animais, pássaros, insetos, homens, mulheres, crianças,

mitigando suas sedes que parecem cruéis

e no meu desespero, vejo aos poucos as margens se afastarem,

e do manancial outrora pujante onde até peixes existiam,

restam pedras onde fios de água vão se desviando,

parecendo pálidas figuras das correntezas antes furiosas.

As margens apresentam terras rachadas, profundas,

onde as águas das chuvas deveriam penetrar,

para alcançar lençóis freáticos que seriam reservas,

numa eventual crise hídrica como agora me abate,

e ao saber que até o aquífero guarani aos poucos se esgota,

fico preocupado pela insensatez dos homens,

que não se preocupam com a geração do amanhã,

seus filhos e netos que podem perecer da sede intensa.

Procuro as razões por ser um integrante da natureza,

e ao ouvir os cochichos das árvores exauridas,

dos rios que diminuem suas vazões e me abastecem,

dos animais e pássaros que não encontram alimentos,

fico sabendo que tudo tem várias causas:

o efeito-estufa causado pela emissão dos poluentes,

a derrubada das matas que depois são queimadas,

ainda mais elas geradoras de umidades que se adensam,

formando então as nuvens que despencam generosas e fartas.

Assim, lanço um apelo lancinante ao homem insensato:-

Preservem a natureza, não derrubando as árvores,

protejam as matas ciliares onde brotam as nascentes,

formadoras que são dos rios que me abastecem,

e nas áreas devastadas façam o replantio intenso de mudas.

pois adultas elas espalham umidades e limpam as impurezas,

e quando chuvas copiosas caírem em minhas margens,

lágrimas derramarei para não mais existirem terras rachadas.