O Ar e o Vento

O vento que iça a bujarrona,

Procura do ar a pureza perdida

E açoita insurgido a água poluída

Avocando o dever de varrer-lhe a tona

Seu lamento, uivando na vela afoita,

Sustenta por oficio a gaivota branca

Que em solitário revoar alva pena arranca

E lhe dá por alento antes que anoita.

Pranteia ao mar com descuido tanto.

Nele afoga da castidade a esperança

Sem mais da pureza azul reter lembrança...

Vencido enluta a areia pura seu pranto

Forte, impetuoso e quente, agita o mar

E empurra nas velas a gente errante,

Estranha gente que ainda infante,

Semeia a autofagia degradando o ar.

O ar, gáudio ímpar do pulsar perene

No sorriso procriador da natureza,

Agora fusco, venal, rarefeito de realeza,

Infla a bujarrona com fumo de querosene.