Dos olhares e tanto

que se admita:

ao homem é dado o olho

e a vista

e no entanto

não se permita

que o olhar seja maior

que a coisa dita

porque em sê-lo

o olho desvirtua

o que apenas verbo

desabita a rua

é que aos olhares

não se admite

que sejam reticências

de algum alvitre

porque em tê-los luz

em compreensão exata

nada lhes retire

o aval da prática

que consolida o olho

enquanto instrumento

de medir a vazão

de todo pensamento

ao olho

nunca reste a noção

de que retrata

tão somente perscrute

o que indaga

e se pousa na língua

como verbo inflacionado

há que perdurar um tanto

na condição de projeto incalculado

ao olho

em todas as vias

resta uma feição de atalho

da alegria

porque baldio

mesmo reticente

o olho é janela

de inventar a gente

ao olho

em desoras

cumpre um tempo

de demoras

pois ao restar na face

como farol incauto

o olhar demonstra avessos

dentro da alma

ao olho contudo

é dada a serventia

de inventar-se em noites

mesmo dia.

eis a razão:

o olho deve sempre caber

na palma da mão.

Aurélio Aquino
Enviado por Aurélio Aquino em 02/06/2008
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