Dos olhares e tanto
que se admita:
ao homem é dado o olho
e a vista
e no entanto
não se permita
que o olhar seja maior
que a coisa dita
porque em sê-lo
o olho desvirtua
o que apenas verbo
desabita a rua
é que aos olhares
não se admite
que sejam reticências
de algum alvitre
porque em tê-los luz
em compreensão exata
nada lhes retire
o aval da prática
que consolida o olho
enquanto instrumento
de medir a vazão
de todo pensamento
ao olho
nunca reste a noção
de que retrata
tão somente perscrute
o que indaga
e se pousa na língua
como verbo inflacionado
há que perdurar um tanto
na condição de projeto incalculado
ao olho
em todas as vias
resta uma feição de atalho
da alegria
porque baldio
mesmo reticente
o olho é janela
de inventar a gente
ao olho
em desoras
cumpre um tempo
de demoras
pois ao restar na face
como farol incauto
o olhar demonstra avessos
dentro da alma
ao olho contudo
é dada a serventia
de inventar-se em noites
mesmo dia.
eis a razão:
o olho deve sempre caber
na palma da mão.