A SONATA DO ORDINÁRIO

Preciso de algo quando escrevo

É muito pesado para minhas pernas suportar meus sentimentos

Preciso da leveza que apenas uma boa soda me trás

Tudo tão intenso, mas tudo tão leve

A leveza e o maior dos pesares

O mais pesado em mim é saber que está em mim o meu medo

Meu próprio medo de mim

Meu receio de mim mesmo

De meu descontrole, incertezas e nada mais

Nunca parei para deixar-me sem ter o cuidado de deixar bem demarcado o caminho de volta

Nunca deixei migalhas

Sei muito bem que os pássaros podem comê-las

E as bruxas não têm boas intenções

Eu sempre deixei uma corda bem amarrada

Um exército de gritos para me orientar no caminho de volta

Quem disse que o amor e a loucura caminham juntos

Estava com alucinações diurnas

O amor e loucura estão em lugares opostos

Ou em diferentes caminhos

O amor nos abriga

A loucura tira-nos o chão, perplexos

Não sinto nada como isso

Mas tenho certeza chego muito perto

Não estou falando de surto

Estou falando de alienações

De sintomas apontados nos grandes gênios

Falando daquelas coisas que quando vemos fogem tanto de nosso cotidiano que apenas exclamamos: loucura!

Fogem do nosso cotidiano porque está dentro dele

Entre o amor e a loucura

Encontro-me nesse impasse

Quem me vê falando das velas nunca sentirá o calor delas

Mas se alguém me vir dançando no silêncio sentirá o ritmo da música se a mesma música estiver ouvindo em silêncio

A música do silêncio

O cântico do absurdo

A sonata do ordinário

Seus sentidos todos estarão junto aos meus e saberemos que estamos sozinhos em uma solidão constante contemplando o mesmo céu mudo

E garanto, a melodia não é a melodia do amor

Meu personagem não é meu

Meu personagem sou eu

Eu me criei!

O amor é meu refúgio

É a voz que trás de volta

Por amor eu volto, apenas por amor posso voltar

Todo grande poeta é também um grande amante

Não são os amantes poetas

É preciso conhecer a poesia para amar

E não o amor para fazer poesia

Todo grande poeta é também um grande amante, porque todo grande poeta precisa de uma grande força para voltar

Eis a loucura plena

Eis o contraditório

Eis o cotidiano meu da cada dia

Eis a ironia

Eis nossos maiores horrores

E por ultimo, eis-nos entre o céu e o inferno

Mas repito, não estou no meio, muito pelo contrário, estou dentro, atrás e nos bastidores de minha própria vida

O ordinário

Com medo confesso!

Entretanto, o fato de ter sempre voltado não significa que sempre voltarei

Falar da loucura é não estar louco

Influxo de mim

Não separação entre vida e arte, pensamento

Will Rison
Enviado por Will Rison em 23/10/2008
Código do texto: T1244098
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