Aquela Noite

Não era uma noite fria

Mas eu tremia mesmo assim

A brisa de primavera zunia

E eu sentia, era só para mim

A escada cinza parecia comprida

A rua deserta era escura

Desci e o esperei, encolhida

Voltei à vida e subi, loucura

Não era uma noite fria

Mas eu tremia assim mesmo

Esperei-o na janela, agonia

Durante quinze minutos, a esmo

A rua agora era pacata

Uma luz vi passar e morrer

Oh, dúvida, ingrata

Não quero me arrepender

Uma noite fria não era

Mas, mesmo assim, tremia eu

E mesmo depois de uma primavera

Eu pensava no que se perdeu

Eu pensava no que estava por vir

Eu sentia você se aproximar

Eu queria deixar de existir

Mas ouvi a campainha tocar

Eu tremia

Talvez porque fora uma noite fria

Talvez porque nada acontecia

Talvez pela saudade que gritaria

Eu tremia tanto...

Eu queria um novo encanto

Não o velho e usual espanto

E não a mesma dor, no entanto

Eu tremia, então

Pelos meses de solidão

Pelo medo do perdão

Pelo que era novo, indagação.

Eu tremia, ainda

Pela sua aparência, tão linda

Pela noite, já finda

Pelo fim da sua vinda.

Não era uma noite fria

Mas eu tremia mesmo assim

E quando você se foi, amanhecia

E eu sentia, era só para mim.

A manhã não era fria

Mas, ainda, eu tremia

Quieta, deitada, eu quase dormia

Pensava naquela noite, nostalgia.

Júlia Schneider
Enviado por Júlia Schneider em 06/11/2008
Reeditado em 12/03/2013
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