Aquela Noite
Não era uma noite fria
Mas eu tremia mesmo assim
A brisa de primavera zunia
E eu sentia, era só para mim
A escada cinza parecia comprida
A rua deserta era escura
Desci e o esperei, encolhida
Voltei à vida e subi, loucura
Não era uma noite fria
Mas eu tremia assim mesmo
Esperei-o na janela, agonia
Durante quinze minutos, a esmo
A rua agora era pacata
Uma luz vi passar e morrer
Oh, dúvida, ingrata
Não quero me arrepender
Uma noite fria não era
Mas, mesmo assim, tremia eu
E mesmo depois de uma primavera
Eu pensava no que se perdeu
Eu pensava no que estava por vir
Eu sentia você se aproximar
Eu queria deixar de existir
Mas ouvi a campainha tocar
Eu tremia
Talvez porque fora uma noite fria
Talvez porque nada acontecia
Talvez pela saudade que gritaria
Eu tremia tanto...
Eu queria um novo encanto
Não o velho e usual espanto
E não a mesma dor, no entanto
Eu tremia, então
Pelos meses de solidão
Pelo medo do perdão
Pelo que era novo, indagação.
Eu tremia, ainda
Pela sua aparência, tão linda
Pela noite, já finda
Pelo fim da sua vinda.
Não era uma noite fria
Mas eu tremia mesmo assim
E quando você se foi, amanhecia
E eu sentia, era só para mim.
A manhã não era fria
Mas, ainda, eu tremia
Quieta, deitada, eu quase dormia
Pensava naquela noite, nostalgia.