Diários

Muitas coisas

eu tentei

para conseguir

o rosto que passa,

gritei a plenos pulmões

vadeei por rios profundos

subi às mais altas montanhas

não sei mais

se chegou o fim

se o começo é agora

se a hora é pouca ou farta,

sei que estou cansado

olho para a tela, antes página amarelada

de diário roto

o que vejo

sentenças que serão sentenças de morte

palavras que farão palavras mortas

não importa a ninguém

eu gostar de escrever

de tentar poesia,

apesar de tudo isso

teu riso ontem era tão doce

e teu olhar tão amável,

que por um instante me esqueci

de que morrerei sufocado pelas madrugadas

envenenado pelo perfume das horas,

quem verá

o homem estatelado nas ruas

pobre, cego e nu

quando os sonhos acabarem?

quando as esperanças acabarem?

quando as horas acabarem?

Eu gostava, não apenas do teu beijo

mas da tua companhia acalentadora

da tua inocência quase pueril

do teu amor sem distorções,

não quero música

vento

noite em cores difusas

dia calmo de sol

quero ficar sozinho ...