Setembro

A primavera começou

réstias de luz

no verso de treva

meu coração sentimental

ó grande poema indesejado

a festa das flores

lançadas ao mar

cinzas de meu corpo cremado

na ânsia dos teus desejos

refastelados no pudor

traumático impessoal

quantas vezes

sentados à mesa

num jantar florido de risos e paz

deixamos de compreender

nosso próprio pranto disfarçado

a primavera começou

sol

que clareia as pedras por onde

não passarás

o verso insiste

vírus, chaga, endêmica febre

de transformar em lamento

os braços da margarida

os olhos da discreta orquídea

a esperança da violeta

teu corpo num lugar de flores

numa cama de flores

num jardim de sonhos vestidos de noivas brancas,

noivas belas, copos de leite

lírios sóbrios

como a carência temida e urgente

de nossas vidas, começo de primavera ...