Recanto

Benzodiazepínico

medo inesquecível

teia viva de aranha

som, ruído, exasperação,

envolto em chamas

súbito silêncio

lívida, ilógica matéria

cavo sepulturas floridas

para sonhos, caminhos

(im)possibilidades,

agora que voltam

mesmo que feridos

meus mundos condenados

já não sou quem preciso

já não sinto o que é óbvio

benzodiazepínico

para ver em vertigens

miragens retorcidas

quem matarão amanhã

com a justificativa fútil

de amar, zelar, proteger?

Minhas mãos não têm a marca

simétrica, perfeita

da planejada imbecilização,

benzodiazepínico

para não ver, nem em delírios

a vida que se debate

mortalmente ferida

linha tênue

fim