Sede de viver

As horas voltam

e retornam e voltam, delicadas

ao escurecer tudo tomou forma e renasceu

amo as luzes mas de tantas fui cegado

hoje serei a presa indefesa, atordoada

das inquietações dum tempo cinza

perco o chão que se desintegra

o céu que despeja ira em tempestades,

e horas voltam

desenho no sol que habita o quarto

outros contornos esquizofrênicos

outra face de noites estreladas

e saio

para dentro das memórias que transcendem dias

corvos num revoar frenético

minha orelha incômoda e fria

quem dera pintassem minhas mãos

uma paisagem idílica, um caminho estreito

não de rosas nem sorrisos, mas silêncio e girassóis

da cor do sol, do tempo, do isolamento,

acabarão as tardes

meu quarto simples guarda minha vida inteira

retrato rostos que não verão meu retrato

recolho minhas mãos e sonho

com noites azuis, vilas pequenas, vidas estreladas.