A  CORDA
 

A noite é escura e você está num sono
Profundo
E sonha sonhos
Imundos
Para uma moça virginal e pura.
Acorda!
 

Você caminha e vagueia
Numa vertigem estonteante
De paisagens circundantes
E de corpos nus, suados, desejados,
Todos atados numa corda.
Acorda!
 

Você desata nós, mas a corda continua
Acorda!
E você se alonga de braços esticados
E de mãos espalmadas
A boca escancarada, babando,
Gritando sem sons
Num quarto sem portas.
Acorda!

 
Você vestiu um vestido branco
Estampado com enormes rosas vermelhas
Só o vestido
Mais nada
E sentiu um gosto profundo
Só o vestido
E você.
 

A acrobata de coxas brancas e roliças
Pendurou-se numa corda
E fez mais de mil rodopios
Contados um a um
Pela platéia delirante,
Diante da beleza e do perigo.
Acorda!
 

O mundo não mudou
Com o raiar no sol na manhã fria
As roupas estavam penduradas no varal
Lá fora
Roupas quaisquer, toalhas, lençóis,
Calcinhas brancas e algumas pretas
Acorda!
 

Ninguém acordou
Era feriado no mundo
A cama era boa
Era preciso ficar na cama muito tempo.
Na beira do cais havia muitos barcos
Parados e presos por cordas
Sem poderem navegar.
Acorda!
MILIPA
Enviado por MILIPA em 01/03/2009
Reeditado em 01/03/2009
Código do texto: T1463592