O ocioso ofício de sentir
O ocioso ofício de sentir
Sentado sobre a pedra, fundo-me a ela,
Absorvendo seu frio e sua rigidez
Torno-me pedra, até que descubro sentir
Sinto o vento e as gotas de água respingadas das ondas
Sinto as gotas salgadas nos lábios e as lambo
O sol frita-me as lágrimas secando-as
Torna-me as faces róseas, como vivas
Sol, brisa e água combinam perfeitamente
Como combinam meu corpo e minha alma
Conflitam mas, de alguma forma, se acomodam
Sinto, sinto muito, meu Pai!
Sinto pelas vezes que não vivi minha vida
Sinto pelas vezes que não usei o meu corpo
Sinto por ser, afinal, tão pouco
Quando, no princípio, me deste tanto!
Sinto que até esta rocha é mais digna que eu
Sua força destaca a minha fragilidade
E credito muito desta fragilidade
Ao ocioso ofício de sentir
(Djalma Silveira)