Olhador

Eu poeira do mundo.

Como no chão uma esteira.

Eu vejo o fundo.

Capito o som da vida cabeira.

Do trabalho, carro ou do meio-fio.

A menina que passa.

No ar de sua graça.

E ela nem me viu.

Olho para o lado, fotografo outro instante.

Levanto o pescoço e vejo o horizonte.

Um homem trabalha e enxuga o suor.

Um vira-lata bem magro espreguiça no pó.

E eu poeira do mundo.

Totem de juízo alado.

Com suspiro de alma e tempero de coração.

Sinto que o fim de tarde é mais belo.

O crepúsculo da tarde.

Misturado ao fresquinho chegante.

Da a impressão que decerto.

Me vejo poeira.

De um mundo sempre avante.