DA ETRNIDADE DO MOVIMENTO
O que não se pode conter
Incontinenti nos arrasta ao vazio
Não se limita em paredes ou latas
Provoca sulcos e linhas profundas
Marcas absolutas em cada rosto
Dobras na pele e desenhos de vida
Está entre a aranha e o centro da teia
Nos verdes musgos na escuridão da floresta
Na fruta verde amadurecendo no pé
Na sombra tênue do cogumelo
Incitando células em frenético agito
Traz a decadência da juventude
O florescimento do sorriso
Perdura no deslocamento do braço carrasco
Entre a frouxidão e a tensão
Na corda que asfixia o enforcado
Aparece entre o andar da criança
E o beijo gelado da morte
No percurso do êmbolo, injeção letal
Na contagem de cada degrau
Entre a luz e o breu da masmorra
Impregna as mudanças de hábito
Embala a sinuosa valsa das dunas
Promove a degradação de todas as carnes
Habita entre a idéia e a beleza do carnaval
O motivo que nos afastou do zero e de estarmos em cem
Arredonda as rochas da costa outrora brotadas em aguçadas pontas
Tornando-as visão rotunda
Habitou a selvageria das cavernas
E as trevas dos castelos feudais
Entremeia o sorriso pueril
E o esquife da matrona senil
Esteve na invenção da roda
Está no vôo do avião a jato
Entre o ovo e a dança do urubu-rei
Criou o pó das catacumbas de Roma
Fez crescer o madeiro da cruz de Cristo
E brotar a lágrima nos olhos tristes do velho
Viceja entre a carícia e a explosão do orgasmo
No caminho entre a flecha e o gavião
Na vida efêmera da mosca
Que se sacia da putrefação da ferida
Entre a excitação e o medo do prazer
Das freiras no fundo dos claustros
Está entre nós e as infladas velas das lusitanas naus
Entre o martelo e a cabeça do prego
O útero e o bico do seio
Nos transportando ao infinito do movimento