Isso, o que é?
Isso... Sempre existiu
Isso... Sempre esteve aqui
Primeiro cresceram seus braços
Depois as mãos e com elas os dedos
Que tentavam meu rosto tocar
Isso... Nunca desistiu, pelo contrário.
Mas ele era pequeno
Ele, aos poucos foi tentando me agarrar
E só minha perna pôde alcançar
Com o tempo, isso ganhou pernas
E bem de mancinho se pôs a caminhar
De um jeito ou outro ele tentava me seguir
Às vezes conseguiu abraçar-me
Mas seus abraços não me faziam sorrir
Continuei a ignorá-lo mesmo assim
E isso, bom, isso continuou a esperar por mim.
Certo dia, isso acordou e ficou surpreso
Pois no alto do seu corpo havia uma cabeça
Então isso percebeu que precisava de mais...
E passou noite e dia a procurar melhor forma
Isso sempre quis me conquistar, me domar...
Mas sabia que sem forma, nada iria adiantar!
Então esperou pacientemente até que um dia aconteceu
Primeiro um nariz, e como um animal
Passou a me farejar
Segundo, os olhos, agora isso podia me ver
Mas seus olhos não me diziam nada
Por fim, veio a boca, e com ela palavras
Que saltavam direto aos meus ouvidos
Eu dizia “não”, mas sem orelhas
Isso não poderia me escutar
E assim continuou por um longo tempo.
Isso se tornou um companheiro
Constante, impertinente e soberbo
Meus ouvidos, as coisas mais absurdas tiveram que escutar
E às vezes isso até conseguia me guiar...
Mas como não ouvia, não sabia quando eu estaria lá
E tudo ficaria assim se suas orelhas
Continuasse a lhe privar.
Mas um belo dia elas vieram
E então, isso sorriu e finalmente veio a me escutar
Como sempre, chegou de mancinho
E pôs-se a sussurrar e as mãos a me segurar
Só que isso teve uma surpresa
Pois esperava que eu fosse ralhar
Mas ainda de costas, só a mão fiz levantar.
Isso, só entendeu quando me viu virar
E se espantar com o enorme vazio que em meu rosto
Insistia em pairar
Lentamente peguei a sua mão e levei-o ao espelho
E isso se ajoelhou e começou a chorar
Ao ver que ele tinha se transformado em mim.
Depois lentamente comecei a desaparece assim como
A noite que vai se esvaindo ao passo que o dia vem chegando
Até que nos tornarmos um só.
Enquanto isso eu compreendia que um sempre foi o outro
E o outro sempre foi o um.
Isso se chama maturidade
E agora eu entendo porque travei essa longa batalha
E que mesmo sem saber foi me ganhando sem querer
Hoje isso não me incomoda
Somos apenas bons amigos e nada mais
Pois antes, a infância queria ficar
Mas por ser inexperiente, dentro de uma vida
Ela torna-se uma sombra
Que com seus braços
Tentar de volta nos puxar. Mas é em vão
Tudo tem seu tempo e lugar