Arrebol

Este é mais um dia infeliz como todos os outros que já passaram, apenas acentuado por uma dor aguda que lateja em minha alma. Uma dor real, quase palpável.

Uma dor só minha que corroí meu ego obrigando-me a rever-me e a reinventar-me.

Obriga-me!

Sinto um restinho de vida que se aparta de mim, e meu eu mergulha no caos infinito.

É minha própria morte.

Num surto de coragem dou adeus à fé, que ainda proporciona-me certa esperança elucidativa, esta que agora já nem existe mais em mim.

Em cada passo dado nesta jornada errante vejo que estou partindo, indo pra bem longe de mim.

As realidades: moral e ética, que insistem em me oprimir e deprimir parecem ser tão justas quando me condenam a viver só.

Afinal nada é perfeito, somente o irreal, o abstrato, o não palpável e inalcançável, somente Deus.

Como progredir?

Meu deus que habita em mim está largado no chão de meu vasto interior, debruçado sobre seu próprio corpo e envolto por suas lagrimas que jorram sem nenhum esforço.

Quanta dor! Um grito agudo e desesperado de tanta dor...

Meu mundo gira sem parar, e parece ser tão pequeno e mesquinho quando não para pra vê meu momento espetacular de pura destruição pessoal.

E um sofrimento que dilacera meu eu, já quase perdido de mim!

Afinal tenho o direito de ser infeliz.

Estou me deixando agredir por um sentimento que visto de fora por expectadores atentos parece ser tão puramente controlável.

Mas isso não é um espetáculo milimetricamente planejado. Nem tenho sequer iluminação cênica. Estou perdido no espaço de mim mesmo. Um cômodo apertadinho de 4x4. É mesmo um buraco.

Uma miséria universal parece corromper quem me vê. Espectadores pasmos tendem a não perceber minha dor inteiramente mortal.

Sofrer é viver!

Mas se afirmo estar morrendo por um sofrimento sem fim, percebo que sofrer parece me fazer viver.

Contradição?

Sofrer torna-me apenas sensível para sentir-te.

Você ainda esta vivo em mim, com uma vida gramaticalmente verbal.

Você ainda pulsa em mim, com uma força literalmente anormal.

Tua vida me faz coexistir com um mundo podre que só existe fora de mim e para ti.

Entender o mundo só me faz perceber o quanto sou frágil e preciso de ti que só existe fora de mim.

Hudson Eygo

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 07/11/2009
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