Chuva em mim

A chuva se espalha pela madrugada,

Tal qual, eu vou pelas ruas à toa...

...E vou mesmo com a alma já calejada

Pelos obstáculos e espinhos da vida...

Vou vagando pela memória perdida

Tal qual um labirinto cheio de escolhas

Nas noites meu coração é névoa

Vou soprando pelas ruas como folhas

De um livro bailando numa mansa aragem

Sem regras, sem destino, num sopro esmo

Velozmente passo como uma miragem

Pelas formosas manhãs de primavera

Mesmo que paz dentro mim jamais houvera

Que meu coração fora mil retalhos.

Dia e noite o mesmo soprar... Sempre o mesmo!...

Sou simples folhas desprendidas dos galhos...

Sou chuva pela madrugada silente,

Em trovões e raios sou amor selvagem

Sou um pensamento tão incoerente

Sou manso lago, sou louca tempestade...

Sou pesadelo, sonho, clamor, vaidade...

Sou humanamente divino! Tão franzino!...

Sou desejo, sou eterno, sou passagem

Sou anseio, sou a busca do destino

A chuva molha meus lábios num manso

Toque, tal qual quando os sutis lábios dela

Tocavam os meus fazendo um remanso

Jardim repleto de flores primorosas...

Um arco-íris de cores harmoniosas...

Ó! sou selva, sou fogo, sou ar, sou terra

Sou chuva! Que purifica e se revela

Em mansas brisas e bramidos de fera...

A chuva se derramada no horizonte

E se derrama num suave perfume

És mansidão, és promessa, mansa fonte,

Por um plácido manto sou envolvido

Pelo céu anil, sou brisa, sou gemido

Andando pela madrugada silente

No firmamento sou estrela que lume

Sou folha bailando no vento rangente

Sou chuva, sou sol, sou poesia, sou dança

Aí! Sou tão culto, sou tão oculto, um vulto...

Sou pensamento, sou lança sou lembrança

Sou silêncio, terremoto, sou remorso...

Sou divino, sou menino, sou esforço,

Descansa! Sim, descansa pobre criança!

Que amanhã de novo serás um adulto!

Sereis folhas sopradas na aragem mansa...

Joselito de Souza Bertoglio
Enviado por Joselito de Souza Bertoglio em 27/03/2010
Código do texto: T2162883
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