O MUNDO DÁ MESMO VOLTAS

Por que há tantos por quês...

Fico sempre a indagar,

Eu não sei, nem você,

Cada coisa em seu lugar.

Tudo tem seu tempo certo,

Cada um com seu destino,

Por que existe deserto ?

Eu não sei, sequer opino.

Mas a vida nos ensina,

As voltas que o mundo dá,

Veja só a minha sina,

É de não se acreditar.

Nasci com a pele escura,

Passando fome no ventre,

Com família sem cultura,

Violência era presente.

Saí pela vida, prematura,

Cansei da fome e de apanhar,

Esta era triste e dura,

Casei-me para me libertar.

Encontrei o João de Tal,

Trabalhador e bom ser,

Mas seu salário dava mal

Para mal sobreviver.

Nova, com cinco crianças,

Pois não sabia evitar,

Procurei com esperança,

Um local pra trabalhar.

Dona Eloá me aceitou.

Rica, da sociedade,

De início me alertou:

- Embora com pouca idade,

Já que me procurou,

Leve com seriedade

Ou seu emprego acabou.

Era muito rigorosa

E demonstrava muito bem

Ser preconceituosa,

Tratava-me com desdém.

E o tempo foi passando,

Olhava pros filhos e o João,

A fome ia aumentando,

Tinham fome de leão.

Um belo dia, cansada,

Um tanto desanimada,

Tinha o dinheiro do pão

E, andando pela calçada,

Mudei de opinião.

Sabendo estar errada,

Apostei na loteria,

Parece que alguém dizia :

- Sua vida será mudada.

Como num conto de fadas,

Fui a única premiada.

Grande soma de dinheiro,

Que mudou meu paradeiro.

Não sei se fui covarde,

Não voltei à Dona Eloá,

Mas soube, triste, mais tarde,

E decidi auxiliar,

Aquela que há pouco tempo,

Era tão rica e nobre,

Mas com alguns contratempos,

Tornou-se plebéia e pobre.

São as voltas desta vida,

Que eu não sei explicar,

Confesso, fiquei sentida

Mas feliz por ajudar.

Auro