Frevo II

assim no frevo desatado

das amarras todas da vida

quem poderá não descobrir

o rumo tanto da avenida

que se alarga pelo peito

como um imenso grito

que sonha todos os mares

e afoga todos os sentidos

é que ao frevo compete

um dançar tão renitente

que chega a molhar a liberdade

dos ossos todos da gente

como se fora rebelião

de tudo que se consente

não lhe cabe a desfaçatez

de parecer-se inanimado

pois antes fora um pendão

pela avenida desfraldado

juntando todo perdão

terçando todo pecado

assim se faça compostura

de quem lhe traz pelos pés

como uma escrita inventada

em que lhe caiba o viés

de parecer-se deflagrado

nas costas de quem lhe usa

como uma bomba-relógio

dos tempos que se procura

urdido em todos os cantos

cantado em todos os ócios

lhe caiba a contrafação

a tudo que seja o ódio

por lhe restar a candura

das humanas composturas

como se fora bandeira

de tremular em quem lhe cuida

o som lhe seja o indício

de que a vida vaga e prossegue

rompendo todas as cercas

cercando todos os medos

construindo um quê de sonho

no meio dos seus segredos

o frevo assim desatado

é uma forma indefinida

na rua tanta do nada

de construir todas as vidas

como se o passo fosse razão

pra derramar-se tão frequente

como um caminho aberto

no peito todo da gente