O corpo

Se a fera que o peito devora

é feita de minha própria carne enternecida

se me rendo ou finjo que o olho chora

é para aplacar a ânsia da fúria desmedida,

se o instinto vil persiste e estraçalha

a essência do que foi a célebre corrida

é feita de luz a inexorável batalha

que traz incólume o gosto da partida,

se o espírito, em luta vã com a morta matéria

reclama o espaço na alma aturdida

‘vem e deita-te na inominável miséria’

é o que brada o corpo na paixão suicida,

se tantos em mim romperam em pranto

de tanto amor, de tanta dor ensandecida

foi apenas para minha mágoa, meu espanto,

que todos juntos exclamaram: vida, vida, vida!!