PONTO DE INTERROGAÇÃO
?
Juliana S. Valis
Estava aqui pensando sobre a vida,
Sobre o mistério por trás da cortina dos dias,
Sobre as voltas que o tempo dá, sem explicação,
E como as coisas são voláteis na plenitude das horas...
Estava pensando, sem demoras, no tempo,
Na parcialidade indelével da minha vã filosofia,
Na manhã que se foi e na manhã que vem,
Trazendo novos conceitos sobre tudo e nada,
Sobre amor e sorte, sobre vida e morte, sobre mal e bem,
Sobre tudo que some, sobre o nada sem nome,
Sobre eternas dúvidas que a vida tem !
Estive pensando sobre tudo isso e mais um pouco,
Sobre todos os sonhos pescados na estiva,
Sobre as intempéries desse mundo louco,
Sobre cada ilusão (morta ou viva),
Pedindo carona na estrada dos dias...
E, de repente, uma dúvida caiu sobre mim,
Caiu do ápice do céu, em direção ao mar,
E mergulhou bem fundo no meu olhar,
Em tudo que há de humano, sem dizer o fim...
Então, revi todos os meus conceitos,
Na passarela das falhas e dos defeitos,
Revi pedaços de sextas - feiras,
Revi sonhos sem fronteiras,
Fiz uma faxina na alma como nunca antes,
Na tentativa de varrer ilusões gritantes,
E passei muito tempo limpando o chão das dívidas vazias,
Procurando dádivas sob o tapete do coração,
Mas, quando tentei abrir a cortina dos dias,
Apenas vi um grande - e incrível - ponto de interrogação.
----