Os Cleptomaníacos

Cadê meus heróis branquelos e fracos

tão frascos, que viraram pó

Cadê nossos monarcas inúteis e apáticos

tão insensatos, suas cabeças dando nó

Cadê nosso amor sorumbático

que no Mar Báltico se dissolveu

Cadê nosso sonho estático

tão fático que morreu

Cadê nossos paladinos armados

tão obcecados por matar

Cadê o pó batido e inalado

compenetrado, p'ra te endireitar

Teus direitos são pecados

captados, pelo desejo de errar

A propaganda tem te aniquilado

você tem comprado tudo que ela falar

Não iluda, não engane

deixe a pedra rolar

Não minta, não ame

deixe de profanar

Cadê teus deuses indolentes

inconsequentes, que te deixam naufragar

Cadê teus detergentes

impotentes, que te querem limpar

Cadê teus amigos influentes

rios fluentes p'ra você navegar

Cadê teus remédios doentes

usados frequentemente p'ra morte agravar

Cadê seu povo fantoche

falo sem deboche, pois não consigo enxergar

Cadê aquele teu broche

desabroche o orgulho no teu olhar

de ser mais um hipnotizado

inutilizado biologicamente em conservação

espécie extinta

faminta por percepção

De preto e branco

hoje televisores são às cores

Beijos técnicos

traições indolores

O amor é feito de tranquilizantes

e buquet de flores.

Henrique Rodrigues Soares - A Natureza das Coisas