Ame a vida e saiba viver

O homem que trabalha a dor

Não a sente com tanto fervor

Como o ser que (sobre)vive e resiste

Ao impulso da intensidade e insiste

Em reprimir desejos e se angustia

Não sofre em pêlo mas do vazio não se alivia

O ser que não somatiza e supera

Enche a alma de pedras e não persevera

Em adentrar no âmago da sensibilidade

Que repousa na criança interna

Que com sono reluta mas iberna

Na caverna fria do adulto gelado

Amante da razão e pra poesia calado

Mergulha na opinião dos outros a seu redor

Não tem vontade própria e pior

Venera o marasmo que lhe engole

Se torna instrumento alheio como uma gaita de fole

Que reproduz o som que fura os ouvidos

Cala a mente e deixa os membros sofridos

Se não sabe viver, as perguntas são insistentes

Os amores somem e as estrelas não mais são surpreendentes

A vida em agonia e angústia se revela

Pois como um dia disseram: “A vida gosta de quem gosta dela...”