Reflexões de um pileque

Um rio de lama joga pra fora

a ignorância hipotecada de nossos avós

a África embutida dentro de nós

os judas, os medos,

os sonhos, os segredos

que há dentro de mim e você

Sou o Benjamim da tua casa

Sou da borboleta a larva

que aspirou a ser jasmim

Respiro do inicio ao fim

todo esse sangue de rara beleza

todo esse ar de puro esperteza

todo esse nada que nada acreditei

Um rio de lágrimas nasceu no meu rosto

Fonte de água mineral, minha gordura vegetal

que derrete e vira sal, tempero para o meu Carnaval

Então grande chuva caiu

Então a alegria fugiu

como um covarde dizendo que era tarde para viver

Então aranhas começaram tecer

minha sepultura.

Henrique Rodrigues Soares - A Natureza das Coisas