MONÇÕES

Penetrei mil frestas

Uivei por tantas arestas

Inflei velas de maltesas cruzes

Espalhei o cheiro acre da fumaça dos obuses

Dei destino e norte às galés

Fiz silvar seus cordames

Arrastei-as a bordos e bombordos

Crispei cada onda daqueles mares

Eolo supõe dominar-me as vontades

Puro devaneio e soberba divina

Fiz-me alísio e sou setentrional

Outonal sopro de nordeste

Sou constante e calmaria

Vendaval e brisa matinal

Sou vaga e leve ondulação

Torno agrestes aqueles sertões

Mares fantasmas de antanho

Solo fértil transmuto em mosaicos

Ressequidos e estéreis torrões

Prosaicos e distantes desertos

Monção, arrebato a vida das caatingas

Bons ares trouxeram coloridos balões

Vindos de todas as partes e direções

Como mensagens em garrafas nos céus

Cada cor representa um amor

Do mais calmo ao mais arrebatador