Por que escrevo?

Como tudo que nasce, como tudo que vem de uma semente.

Como o vento que sopra em tantos lugares diferentes.

Como um ciclo de um rio com suas vazantes e suas enchentes.

Assim é o vai-e-vem da correnteza de ideias que corre em minha mente.

Escrevo porque existe algo em mim que ultrapassa os limites da minha’lma.

Escrevo porque aquilo que escrevo me traduz e me acalma

Escrevo aquilo que transborda e que precisa ser derramado sobre o papel.

Escrevo aquilo que não pode ficar solto ao léu.

Escrevo porque sinto encantamento.

Encantamento pelo simples, mas que me causa espanto.

Encantamento que mexe comigo

Encantamento que mexe por fora e que mexe por dentro.

Tenho encanto pela palavra escrita, falada ou cantada.

Tenho encanto pela mistura, pela palavra bem trabalhada

Pela palavra que tem cheiro, tem cor e tem sabor.

E pela sonoridade que lhe empresta valor.

De maneira alguma escrevo a esmo.

Escrevo tudo aquilo que já não cabe mais em mim mesmo.

Escrevo porque sinto. Se sinto, logo escrevo.

Escrevo por convicção e porque sinto quando devo.

Tudo o que vai dentro de mim, simplesmente, precisa escapar,

Precisa sair, precisa ser, precisa se tornar.

Preciso me esvaziar.

Preciso compartilhar.

Preciso guardar do lado de fora, e não do lado de dentro.

Como um oleiro, vou dando forma ao pensamento.

Como um balão que se enche, vai ganhando altura e tomando forma,

Assim vou elaborando todo o conjunto de minh’obra.

Como um balão que aos poucos se esvazia e vai perdendo a altura e a pressão,

Assim vão escorrendo as palavras pelos dedos de minha mão.

E quando tudo mais é posto pra fora

E não me resta mais nenhuma gota de pensamento,

Ainda assim me sinto cheio de sentimento.

Cheio de uma satisfação que preenche cada espaço, que antes era tomado pela inquietação.

Cheio de um vazio que me completa, como um copo que seca, mas que ainda está cheio de ar.

É assim como o nada que não se vê, mas se sabe que está lá.

É assim, como um silêncio que se escuta

Assim é o vazio que se oculta e me ocupa.

Assim é o vazio que ocupa esse espaço.

Assim é o vazio que me preenche pedaço por pedaço.

Mas, então, de repente e temporariamente

Tudo cessa e todo o ciclo recomeça,

Da ventania se faz calmaria,

Do turbilhão se faz mansidão.

Já não me vem mais a necessidade de me tornar ou de me esvaziar

Mas de me preencher, de me renovar e de, novamente, me completar.

Como em uma espiral sem fim,

Sigo sempre em frente em busca do infinito de mim.

Como em um poço sem fundo,

Sigo mergulhando em busca de um outro mundo.

Mano Kleber
Enviado por Mano Kleber em 27/06/2011
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T3060101
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