De onde vem a lágrima?
Era uma vez um lugar não muito distante,
Onde quase tudo acontecia num rápido instante.
Era lá onde moravam a tristeza e a alegria.
Só que era um lugar que pouca gente conhecia.
Os habitantes desse estranho lugar
Passavam os dias a filosofar
E viviam uns com os outros a se perguntar: de onde vem a lágrima?
Isso era algo que só mesmo a tristeza e a alegria sabiam explicar.
A tristeza com toda segurança dizia: ora, ela nasce assim como um rio,
Que brota do fundo da terra, do topo de uma montanha como um fino fio,
Que escorre de mansinho e aos poucos se transforma num curso d’ água
Levando da gente o que a gente costuma chamar de mágoa.
Dizia a tristeza, ainda, que ela nascia no fundo de um coração.
De um coração machucado.
De um coração dilacerado.
De um coração espremido.
De um coração partido.
Os habitantes daquele lugar não conseguiam entender.
Será que para uma lágrima verter era preciso sofrer?
E voltavam a se perguntar: de onde vem a lágrima?
A tristeza explicava e repetia,
Que era no fundo de um coração que ela nascia.
Ela vinha de um lugar escondido.
De um coração aflito.
De um coração doído.
De um coração ferido.
De um coração sofrido.
A alegria costumava dizer que ela descia assim como a chuva,
Que de uma nuvem carregada brotava e no topo do céu se formava.
Caía de fininho e aos poucos ia se transformando em gotas d’água,
Lavando na gente o que a gente costuma chamar de alma.
Dizia a alegria, também, que ela nascia no fundo de um coração.
De um coração aliviado.
De um coração emocionado
De um coração cheio de saudade.
De um coração cheio de felicidade.
Os habitantes daquele lugar não conseguiam entender.
Será que para uma lágrima cair era preciso viver?
E voltavam a se perguntar: de onde vem a lágrima?
A alegria explicava e repetia,
Que era no fundo de um coração que ela nascia.
Ela vinha de um lugar complicado.
De um coração apaixonado.
De um coração apertado
De um coração incontido.
De um coração muito comovido.
Ambas achavam que o caminho que ela percorria
Talvez explicasse porque ela, simplesmente, escorria.
Era um caminho delicado e estreito.
Parecia que vinha de dentro do peito e quase não se percebia direito.
Enfim, em um ponto, a tristeza e a alegria pareciam concordar.
E todos os outros igualmente sentiam e pareciam acreditar:
É que a lágrima vinha de um sentimento que o coração invadia
E que por ali passava e resolveu fazer sua morada num belo dia.