A DOCE VIDA

Chega de poemas de agora.

Faz-se tarde para o presente...

Se esse momento arde?

Passem pois os devidos unguentos...

É preciso voltar os olhos

para o que foi e foi e foi

e pousou cá, consagradamente não sendo.

Lamentos? Bem sei que há.

Haveria. Haverá...

Chorei. E choraria? Já não sei.

Uma nova regra:

O que foi é o mesmo que será

sempre e sempre,

portanto, a soprar-me à nuca, nunca mais.

É preciso sair dessa viagem;

finalmente desarrumar as malas.

É preciso pinchar certos poemas

numa vala, reemergir e beber la dolce vita

sem sequer suspeitar de viver o agora:

saber-se viver é fímbria de morte.