POR QUASE NADA

que bem lá no começo

ao hedônico princípio

dos meus tempos

refluía de menos a poesia

e de mais a versaria escancarada...

eu gastava um falso ar grandioso

ganancioso em espírito

e nada de novo a dizer de lema

achava um poema

a gema de coisa muito séria...

por ora mudei um pouco

- procuro mais em menos:

um mísero furo

no curso do rio das palavras -

busco uma agulha no palheiro

uma levíssima espetada

que me esvaia o sangue

de pés à cabeça

por inteiro

e me aniquile a vida

por som, por música

por quase nada