Perturbado
Só eu me conheço
Só eu sei quem eu sou
Só eu sei o que passa aqui dentro de mim
Só eu que conheço os sentimentos que borbulham secreta e obscuramente aqui
A adaga imaginária que carrego entre meus dedos
Eu sedento por cortar a garganta daqueles infelizes
E das pessoas felizes também
Ver o sangue escuro manchando minha pele
O vermelho jorrando para todos os lados
Tomando conta do branco do mármore
O último grito de dor
O que era alegria patética se torna medo perceptível nos olhos - agora sem vida
Agora sem mágoas
Sem sofrimentos
Sem culpas
Graças a mim
Sem felicidades
Sem paixões
Sem amores
Graças a Deus
Sou eu o Deus?
Sou eu que tenho o direito de escolher o destino de um outro ser?
Reflito sempre quando ponho a cabeça no travesseiro
Pensamentos e mais pensamentos povoam minha mente
Mas só uma obsessão:
Cabeças...
Decepadas
Quem diria,
Só Deus sabe
Só eu sei
Só eu vejo
Só eu percebo
Precisam morrer
Preciso matar
Ele sussurra no meu ouvido:
Mate-o
E repete:
Mate-o
Então mais uma vez
E outra
Ah, caraca, eu não aguento!
O sangue derramado
Seco no chão, sob o sol quente na estrada
Reluzido pela luz
Vejo e revejo
Então o outro eu entra
Acabei com o mundo de alguém
Mundo que me dava asco
Mas mundo
Era preciso, retruco eu
Sou só um bicho movido por instintos, replico o outro eu
Qual sou eu?, me pergunto
Qual o fajuto?
É mais profundo do que posso entender
Só sei que não sei
Sei que nem eu sei quem sou
Sei que sou
E isso me dá nojo,
Me traz felicidade:
Sou assassino