MEZOGIORNO
o meio fio é a guia
da meada o fio
da navalha
azougue fino
equilibro
meus passos
no meio fio
de fio a pavio
ando com
os pés cortados
pés na salmoura
e corpo no mar
feito navio
sem rumo
sem prumo
como enguia
fluindo
na eletricidade
do dia
o corpo cáustico
não é merecedor
de versos
descuidado
e seco que é
o corpo que
à minha alma encerra
que tem negado-me
a sutileza e a sombra
das coisas
e dos desejos
sobre a terra.
Sou reis posto
miúra pequeno
acantonado
sigo o som de uma
concertina triste
como outros tantos
o vazio no peito
me torna arfante
armado em riste
deixado-me ao sol
e ao sexo do meio dia
meio dia é a exata hora
é a hora incerta
eterno é o meio dia
numa alma deserta