MEZOGIORNO

o meio fio é a guia

da meada o fio

da navalha

azougue fino

equilibro

meus passos

no meio fio

de fio a pavio

ando com

os pés cortados

pés na salmoura

e corpo no mar

feito navio

sem rumo

sem prumo

como enguia

fluindo

na eletricidade

do dia

o corpo cáustico

não é merecedor

de versos

descuidado

e seco que é

o corpo que

à minha alma encerra

que tem negado-me

a sutileza e a sombra

das coisas

e dos desejos

sobre a terra.

Sou reis posto

miúra pequeno

acantonado

sigo o som de uma

concertina triste

como outros tantos

o vazio no peito

me torna arfante

armado em riste

deixado-me ao sol

e ao sexo do meio dia

meio dia é a exata hora

é a hora incerta

eterno é o meio dia

numa alma deserta

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 31/01/2007
Código do texto: T364893