UM ESTRANHO EM MIM
Vivo os meus dias com um desconhecido
Que me força a ir aonde eu não quero,
Que me compra coisas de que não preciso,
Que me obriga a ouvir vozes que não tolero,
Que, se me rebelo, fica escondido.
Ando pela vida com um completo estranho
Que me rouba o sono, e me traz pesadelos,
Que me traz lembranças que eu tinha apagado,
Que me esconde rostos quando quero vê-los
Que faz de uma brisa um vendaval tamanho.
Vago pela estrada com quem não conheço,
Que me desafia, e zomba de mim
Que me faz sorrir com olhos de tristeza,
Que, querendo um não, me obriga a dizer sim,
Que me impõe o fim quando era só o começo,
Criatura estranha que em mim se escondeu,
Devolva-me os sonhos e o sabor da vida.
Permita que eu chore se a hora é de dor,
Deixe-me, depois, curar a ferida
E, antes da partida, saber quem sou eu.