A lágrima que cai

Por que lamentas pela lágrima que cai de teu rosto?

Não queres sentir o desprezo e o desdém que vem com ela?

Antes a sinta como uma gota desnudada e fria,

Sinta o gosto salgado e sagrado do ouro em sua face.

Já não sois brisa em noite estrelada, nem recando para si mesmo,

Antes redemoinho, tufão, medo e angustia.

Por que tens medo de sentir aquilo que tu és?

Como podes tu esconder-se de si mesmo?

Tuas entranhas, teu corpo e teu dissabor te denunciam.

Eis covarde! Queixas-te por sentir a vida e a nega.

Negas a poesia, a tortura e o desalento.

Eis covarde! Isso é o que sois! Tens medo da luta.

Podes tu fugir para outro caminho que não seja a vida?

Podes tu ter medo do medo de sentir?

Ergue-se! Levanta-te! Deixa a lágrima cair!

Não espere compressões piedosas, nem acalento por tua lágrima,

Pois se queres saber ou não eu te direi:

Todos aqueles que dizem isso é melhor para você,

Na verdade e em verdade pensam antes em si mesmos.

Andas como trapo imundo mendigando amor,

Como se o amor fosse feito de migalhas, mas ele não é.

O amor é sentimento, paixão e desejo, não sobras.

Se as sobras do talvez fossem pelo menos esperança,

Dirias a ti que guardasse bem a caixa de Pandora,

Porque, talvez, esperança e fé andassem juntas.

Gritai para o mundo louvores de agonia e de dor.

Santificai teu corpo com oferendas perdidas.

Rezai aos santos que não te ouviram,

E deixais que os pregos furem tuas mãos e teus pés.

Amai o que não se podes amar, e detestai o que podes.

Foges dos covardes e amai o impossível,

E deixeis que os fracos morram com o fuzil na mão,

Para que não sejas tu somente a lágrima que cai do teu rosto,

Mas antes a vida, a própria vida.

TAS
Enviado por TAS em 28/03/2013
Reeditado em 13/07/2016
Código do texto: T4211838
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