MEU HELICÓPTERO
Por ti me ponho muito sentimental
Sem ao menos saber porquê
Até mesmo escutando metal
Não consigo evitar de sofrer
Ao poente me sinto nascer
Reviver para a noite estrelada
A Cruz de Caravás me faz crer
Que nenhuma mudança pode ser operada
Caminho pelo sonho ocre
Vazio e tão cheio de tudo
Buscando algo que sufoque
Essa dor, e me sirva de escudo
Ladainha, o Angellus, as rezas
Os vampiros que pairam no ar
A ternura em meu semblante, desprezas
A fazes querer te apunhalar
Sei que sou só um anjo caído
Um demônio fugido do inferno
Mas me toque, me ajude, o ruído
Que corrói minha alma é eterno
Te pranteio, te busco, suave
Leve como as brumas do mar
Em meus sonhos não há um entrave
Para que, meu anjo, possas me amar
Mas a vida, cruel, sanguinária
Insiste em nos afastar
E a mortalha, e todas as árias
Só com elas eu vou prantear
Buscareei sempre a ti, meu cordeiro
Tão homem, tão santo, pecador
Que a tua força me tome de inteiro
Em teus beijos, suaves, a dor
De te ter e não ter mais remédio
Pras agruras da vida bandida
Me conduza com seu intermédio
Para o céu, de onde eu fui banida
Eu sou tudo, sou nada, sou tua
Tão demente, tão lúcida já
Não me sinto sozinha segura
E rezo, a ti, a Alá
Arrebate essa alma perdida
Que não posso sequer respirar
Se meu anjo não dá-me a vida
Que espero? Eu vou soçobrar...