Versos na Aurora
I
Em um dia claro em seu todo vigoroso,
Sobre secretas correntes de um mar ditoso,
Meu pequeno barco de casco azul-marinho
Por entre o vai e vem das ondas desliza bailarino
Aos pés do gigante e do rochedo despido
Que próximo ao paraíso mostra-se erguido,
Onde a ave que forra seu ninho adormece
Nas mãos de um Deus que a tudo tece.
II
Escuta: Da garganta da alta nuvem os hinos
Tocados pelos anjos em seus violinos,
No momento em que o sol escarlate principia sua descida
Ao salmão oceânico que leva o barco à deriva.
Indo para longe, bem longe, livrando-se dos laços,
Sonhando com mulheres que dormirão em seus braços
Em bosques vizinhos por rouxinóis rodeados,
Onde pelo amor se sentirão abençoados.
III
Vê: A lua recorta o céu com seu brilho,
Guardiã da noite e guia do andarilho,
Que no silêncio do bosque se esquiva
Nas colinas que pisoteiam o mar que se aviva.
Feliz - pela natureza imersa em calma;
Branda, serena, repouso da alma...
Um sonhador sob o céu ameno
Enreda-se a longos cabelos de ouro-feno.
IV
Sempre, sempre, doce criatura,
Rumo aos horizontes de pura ternura,
Galopando com o vento em nuvens animadas...
Ei!, Acima das montanhas escarpadas!
Siga peregrino pelo vale onde se cruzam os rios e animais no cio
Correm em disparada: raposas, lebres, esquilos; pelo verde macio
Que acaricia os pés e beija a folhagem colorida;
Nessa bela noite que sobre nós cai infinda.
Praia de Manguinhos-ES, Fevereiro de 2006