O amaldiçoado
Todos esses dias que minha vida tem se segurado são contados como perda de tempo e como um caminho mal traçado.
O amaldiçoado é bem dito e o mal dito é bem falado.
O bendito nem sempre é abençoado em seus ditos e todos esses cordéis escritos em papel, foram rasgados.
Queria falar de mim com clareza, e talvez, não coberto por um eu-lírico.
Mas é necessário cobrir com beleza o que é horrendo, pois nem tudo o que é tesouro é rico.
Quero falar de um demônio oculto, um que invade minh’ alma.
Não se expulsa com palavras um demônio surdo, mas com palavras sem temor expressadas.
Asas, asas, asas....
E assim a liberdade vem desta forma de contar. [Escrita]
Desta forma de ler. [Calado]
Desta forma de fugir. [Parado]
E de me esconder. [Trancado]
Não espere que minhas palavras sejam cantadas.
Não são para os anjos cantarem amém e nem para os demônios roubarem as almas.
Elas devem ser lidas com respeito, como a profecia de um poeta louco.
Agora dê três batidas com os pés no chão e três toques num tronco oco.