Em Casa de Cora (Coralina)

Pois bem, o que dizer, o que sentir, ao estar na janela que tantas vezes, ao cair da tarde, ampararam os braços cansados de mexer os tachos de doces da pequena poeta. Não sei quais segredos e quantas estórias escondem a casa velha da ponte. Nem sei se ela vale alguns vinténs de cobre. Sei que a doceira e poeta, com seu livro de cordel, escondida na longínqua Villa Boa de Goyaz, é viva e presente neste lugar, neste santuário, para mim, sagrado. Poder caminhar por aquele quintal, no meio das plantas e arvores que forneciam as frutas para os doces e a inspiração para a poesia. Poder ali, também deixar-se invadir pela poesia. Sentar na taipa do fogão (quase que procurei café no bule), sentir o cotidiano da cada, da mulher, de seus amigos (um velho e uma louca - me identifico!), a magia de seu quarto, a simplicidade da pequena imagem de Nossa Senhora das Vitórias, que pude beijar e contemplar em prece, o rio Vermelho e a bica de água pura que corre por debaixo da casa. A rua antiga, que leva a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos - quanta alegria em saber que a poeta também partilhava suas preces com a Virgem do Rosário, na igreja dos pretos - tudo isso que digo e muito mais que não cabe em palavras. É simples assim, a Casa de Cora Coralina... Aquela que me ensinou que a vida nem é curta, nem longa e que o sentido da vida, é tocar o coração das pessoas... A casa dela, este lugar em que pude passar algumas horas, e que não passará em mim, pois me é-terno...

Em casa
de Cora
Coralina
de minh'alma
prazer,
alegria
e calma
invadem-me
o coração
vermelho
como o rio
que passa
manso.
Na casa
velha
(da ponte)
a memória
presente
e-terna
da pequena
mulher
doceira
poeta.
Nas ruas
pedras
becos
estórias
lembranças
coisas
mais.
Longe
distante
nos rincões
de Goias
a casa
a igreja
(do Rosário)
a poesia
a poeta
a janela
o poeta
a paz,
o bem
e a alegria...




Paz, bem e alegria...