Retalhos de pensares 3

Todo dia ao acordar sento-me, em um banco de jardim, em baixo das árvores do quintal para tomar um gole de café quente.

No mesmo horário, todo dia, de um mesmo galho um bem-te-vi pula para pegar seu alimento e, com a mesma vivacidade que pulou, volta rapidamente para ele.

É um lindo ritual que contemplo com prazer e admiração.

São verdadeiros mergulhos que estimulam minha vista e minh’alma dos quais volta para o galho com frutinhas amarelas no bico para fazer sua refeição.

Para mim são momentos de vivências de contemplação e reverência – verdadeira oração em forma de prática.

E, assim, na nossa rotina os tempos passam para o passarinho e para mim correndo em forma de estações.

Um dia de início de estação, ainda gordo e lustroso da fartura do verão, quando estou na rotina de tomar meu café pula no galho o mesmo bem-te-vi e, com seu olhar de 360º ausculta tudo em sua volta: cada graveto seco ou quase seco, cada folha ou a ausência deles, cada folha que permanece viçosa... Tudo, tudo ele está ciente até de mim.

Ele sabe tudo, saberes que eu não sei. Livre da racionalidade ele guarda segredos da natureza a mim, naturalmente, negados.

É senhor da Natureza e eu dela pedra rejeitada.

De mim que, certamente, ele vê e evita, mesmo sabendo que faço parte dos seus inimigos biológicos nem thum... Fica indiferente a minha insignificante presença na superioridade de sua natureza de, por assim dizer, espírito semovente.

Torce e retorce a cabeça para com sua completa visão para verificar um ambiente, já não tão farto de inverno, em busca dos mesmos grãozinhos que lhes servem de alimento.

Às vezes acha, ás vezes não..., e depois de algum tempo voa e vai embora para no outro dia voltar.

(de Assis Furtado)

Francisca de Assis Rocha Alves
Enviado por Francisca de Assis Rocha Alves em 02/05/2015
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