Errante

A cada um, um rumo

com muitas pedras a carregar.

Com ou sem prumo,

ninguém sabe ao certo

onde o lúmen vai dar.

O que será (des)encoberto,

ou (des)encaminhado,

pelo caminho afora,

se algo será regado, rasgado,

(des)regrado pelo incerto,

isso a ninguém (de cara) a vida mostra.

Contudo,

que tudo pode

ser na vida absurdo,

isso é certo.

E se, por um lado,

tudo pode dar errado de repente,

isso pouco importa.

Assim como não cabe saber

tudo o que virá à frente,

qual há de ser a sorte da gente,

O que, de verdade, importa

é que a certeza é sempre morta...

Porque, da estrada,

ninguém sabe quantas e quais pedras,

tombos, espadas e feras

nos atravessarão à frente

se rápida ou lentamente.

Contudo, a todo instante, é certo,

corpo, mente, semblante, vida, alma, ser, afetos

de cada caminhante,

nada é deixado ficar quieto.

Todo errante guiado por algum talante,

pela vida é movido, e muitas vezes sai ferido,

mas também a vida fere.

De algum modo, a ela adere,

acolhe, ou mesmo tolhe.

E sempre nela toma lado,

ainda que seja o mais descalvado

ou porventura o de sorte triunfante,

esteja acima, no meio da rinha,

à sua foz ou jusante...

Todos sabemos que, na vida,

vamos seguindo a estrada,

mas ninguém sabe ao certo onde vai dar.

Se em campos, rios, dunas ou desertos iremos aportar.

Alçando ou não êxito, entretanto,

ao errante, basta anotar

que o encanto e eixo da vida

não mora tanto no onde chegar.

Mora mais no seguir

a estrada infinda

acolhendo chegadas,

passagens, partidas,

seguindo o jeito

de querer lutar,

conhecer coisas e gentes

na corrida, e a vida inteira

aprender a sonhar, amar...

(Poema extraído do Livro: "Geografia em poesias: tempos, espaços, pensamentos - Luiz Carlos Flávio).

Luiz Carlos Flávio
Enviado por Luiz Carlos Flávio em 16/05/2015
Código do texto: T5243430
Classificação de conteúdo: seguro