sobre (a falta de) lirismo
Vi meu lirismo amordaçado
Sufocado por mãos que já não me tocam
Emudecido por lábios que há muito deixaram de me beijar
Cegado por olhos que ainda me olham, distantes
Mas já não podem me enxergar
O lirismo, que sempre me foi tão importante
Que nunca precisou de semântica
Pra se explicar
Os versos, que sempre me foram constantes
Fluindo, da alma pros dedos
sem nunca se negar
Nunca precisou de métrica
Nunca pretendeu nem rimar
Sempre surgiu involuntário
como água, a escoar
Pelas minhas paredes, já sujas
Que nunca ninguém ousou limpar
Me deixou agora, no escuro
Sem nenhuma palavra a me contemplar
Foi embora com tudo de bonito
Que já não consigo lembrar
Mas enquanto os sentidos não voltam
Continuo, segura, a caminhar
Desenhando novos caminhos
Aprendendo a ressignificar