MÃOS
Dedos apontam direções opostas
Em radiais destinos inversos
Contornos de áquilas garras
Unhas afiadas arranham, laceram.
Calosidades de tempos idos
Linhas de um tempo futuro
Pegam, apertam, comprimem
Carregam, cerceiam, oprimem
Mafiosa e negra presença
Manos, signos borrados nos muros
Napoleônico segredo nas vestes
Cerradas na unidade do punho
Conclamam, agitam, induzem
Postas, rogam aos céus
As benesses, promessas de Deus
Em conchas, água límpida
Matam a sede, amparam a chuva
Empunham a foice ceifando o trigo
Amassam a massa, criando o pão
Pedem, imploram por piedade
Exercitam, à tarde, os malabares
Erguem o copo, brindando a vida
Expõem o corpo revelam a morte
Expressão larga dos meus poetas
Gesto firme do ator mambembe
O afago de mil amores
Embalam filho hirto, já morto
Em bala engatilha os dedos firmes
Sem preconceito harmonizam, congraçam
Com graça regem violinos violas
Piano tocando de uma só vez
Teclas brancas e negras notas
Impetuoso encontro sonoro
Aclamam vitórias e vãos sucessos
Libertam as crias trazendo à luz
Tapam os olhos, obstruindo a dor
Dedilham cordas em tons precisos
São o arado do lavrador
Duas a duas distintos braços
Desenham solidário círculo
Desdenham ódios e pelejas torpes
Reconciliam-se num aperto de paz